A Bolsa e o Tempo

Professor Metafix

Robert Schiller, professor de economia na Universidade Yale, escreveu um livro muito interessante, intitulado, Exuberância Irracional. O título foi tirado de uma famosa palestra proferida por Alan Greenspan, ex-presidente do Banco Central Americano. Greenspan usou o termo pra expressar ceticismo quanto o valor real das ações nas bolsas de Nova York. Schiller aproveitou o aviso para mostrar que no longo prazo as ações…

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A Bolsa e o Tempo

Robert Schiller, professor de economia na Universidade Yale, escreveu um livro muito interessante, intitulado, Exuberância Irracional. O título foi tirado de uma famosa palestra proferida por Alan Greenspan, ex-presidente do Banco Central Americano. Greenspan usou o termo pra expressar ceticismo quanto o valor real das ações nas bolsas de Nova York. Schiller aproveitou o aviso para mostrar que no longo prazo as ações não podem render mais do que a própria economia. A lição é interessante e as discussões que seguiram depois mostram bem o comportamento dos investidores e especuladores na bolsa. Muitos daqueles que perderam dinheiro com a queda de 2000 culparam Greenspan pelo infortúnio; e os que defendem aplicações em ações no longo prazo evitam as conclusões de Schiller. Isso faz parte do comportamento humano que na sinuca das convicções evita bolas duvidosas. Infelizmente, a certeza, a teimosia e a inépcia administrativa conduzem muitos a perderem boa soma de recursos.

Além do mais, as duas propostas revelam o estado de espírito dos investidores. A tendência humana é negar a realidade quando ela fere interesses próprios e abala a profissão de fé. Pela lógica, Schiller deve estar certo! E isso quer dizer também que as ações, em média, devem render pelos menos o que a economia produz a longo do tempo. Note que falei de média. É aí que cai a ficha, como revelou o cientista Stephen J. Gold quando descobriu que estava com câncer incurável, — não vou morrer tão cedo, pois não sou uma média, sou um caso! Ganhos excepcionais são casos, ou frutos de uma distribuição aviesada para o lado dos especuladores profissionais que desrespeitam o lema proposto pelas corretoras, para se investir a longo prazo. Os especuladores jogam com os desequilíbrios e as oscilações dos mercados, conscientes de que quanto maior o intervalo de tempo maior o risco dos investimentos. Mas prestam pouco atenção às médias, o que deve ser correto quanto aos métodos de operação. Entretanto são seletivos quando escolhem os valores extremos. Muitos procuram interpretar o mercado olhando apenas para os ganhos excepcionais. Mas para atingir esses valores é necessário um boa dose de ceticismo e uma boa administração de riscos.

Assim, cada investidor, além de olhar o mercado com otimismo, deve encarar sua posição não como uma média, mas como um caso, de preferência, isolado. Isolado para mostrar que ganhos excepcionais são possíveis porque o investidor invade o terreno do jogo de soma zero, e administra os bens alocando-os de forma intermitente para aproveitar os movimentos econômicos, como um bom pegador de ondas no mar. O mercado sobe e desse ao sabor dos ciclos de negócios e exige que se vendam as ações com baixo desempenho e comprem-se aquelas que crescem mais rápido de forma intermitente para aproveitar as melhores ondas.

Os ganhos excepcionais na bolsa de valores resultam de três componentes, um real que reflete os ganhos de produtividade da empresa e da economia e outros advindos da especulação e da constante alocação dos recursos. A especulação é dura de engolir por causa da conotação pejorativa da palavra. A questão de produtividade na economia soa ridículo pra muitos também, e o administrar exige vigilância e dedicação de quem gosta do negócio. Infelizmente, os que perderam dinheiro não aceitam nem os cálculos de Schiller nem o tipo de admoestação de Greenspan. É mais fácil se eximir de qualquer culpa acusando Deus e o mundo. Podemos até chorar ou rir dessa situação como aconselhou Schoppenhauer, mas é necessário compreender a necessidade humana de tirar conclusões com poucos fatos, e a de culpar os outros por falhas próprias. Poucos entenderam que a arte de traçar retas sobre um único ponto é inútil pra determinar a direção dos negócios. Infelizmente, esse desejo é tão forte que a maioria mentem sorrateiramente para si próprio para não contrariar os desejos ou as crenças enrustidas pela criação ou ressecadas pelo próprio tempo.

Em tempos de vacas magras e de perdas excepcionais reina silêncio no mundo das finanças. É uma maravilha para os que tiram um tempinho pra refletir sobre a ganância, o medo e a presunção. Nada melhor do que uma dose de realismo para aplacar a euforia dos incautos e aumentar a sabedoria dos céticos.

Ultimamente, procurando notícias sobre a bolsa na internet, deparei-me com um dado interessante. Medindo o desempenho da bolsa americana com o índice SP-500, descobre-se que, nos últimos dez anos, esse índice aumentou apenas 6.5 por cento, ou seja, 0,65% por ano! Como a economia cresceu muito mais, conclui-se que deve existir bastante barganha no mercado. Isto é, deve haver muitas ações boas com os preços deprimidos, abaixo da média.

O bom especulador não alimenta esperança, apenas evita especular sob efeitos de emoções otimistas. Ceticismo é um leito espinhoso, mas é uma necessidade para quem especula com valores mobiliários e sabe administrar os riscos inevitáveis. O que fazemos com ações produz enormes benefícios para economia, mas a prática é canina. Precisamos farejar as oportunidades, evitar os clichês e não temer as dúvidas, conscientes de que a certeza é inimiga da sabedoria. Acima de tudo, precisamos praticar a alocação de recursos trocando as ações ruins por ações boas à medida que elas aparecem.

O pobre desempenho do SP-500 revela um momento lógico. Se as ações, na média, não podem render mais do que a economia, em conjunto, elas também não podem ficar muito aquém do desempenho econômico. No longo prazo, o sistema produz uma convergência saudável entre o rendimento das ações e a taxa de crescimento econômico. Especular é a arte de aproveitar os desequilíbrios e as oportunidades excepcionais. As médias apenas representam o centro de gravidade e ajuda aprimorar a prática de compra e vender. Assim, podemos concluir que se na média as ações estão abaixo da curva de produtividade, está na hora de se procurar oportunidades isoladas entre os valores deprimidos. Elas oferecem enormes oportunidades para os que não temem o futuro e reconhecem o valor do ceticismo sem temer os riscos porque sabem administrá-los.

Para concluir, podemos afirmar que no momento em que a bolsa dá sinais de fraqueza, os bons investidores procuram realizar lucro vendendo aquelas ações que já subiram e dão sinal de cansaço. Ao mesmo tempo vão a caça de oportunidades. Os dados são claros, o índice está fraco porque existem muitas ações que por um motivo ou outro caíram antecipando a curva dos negócios. Aproxima-se o momento propício para se vender ações que estão caras e comprar as que estão baratas! À medida que a incerteza e a volatilidade do mercado aumentam, mais importante se torna essa recomendação.

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